A hora de fazer os trabalhos de casa é um inferno? A psicóloga Ana Isabel Santos dá uma ajuda, em forma de conselhos, no site da Porto Editora.
"Desde muito cedo, as crianças que frequentam a escola estão habituadas a fazer os trabalhos de casa. Os TPC pretendem assegurar que cada aluno possa consolidar, refletir sobre o que aprendeu, para além de ajudarem a promover métodos de estudo e trabalho autónomo, sendo um instrumento importante de feedback do investimento do aluno para o professor. Habitualmente, as crianças convivem com estas tarefas com relativa tranquilidade. No entanto, por volta dos 7/8 anos podem passar por um período onde muitas vezes resistem às atividades que são impostas pelos adultos, o que faz parte da sua construção de uma "consciência de si" mais autónoma. Nesta fase, as crianças podem tentar de tudo para adiar o momento de abrir o caderno e enfrentar os TPC. Desde refugiar-se no mundo dos jogos e dos brinquedos, passando pelas birras na hora de trabalhar, resistência em fazer um trabalho, demorar horas a acabar uma atividade quando na verdade se deveria fazer em poucos minutos… Tudo vale para a criança mostrar a sua recusa! Numa situação destas, cabe aos pais apoiarem na realização desta tarefa, criando rotinas e motivando para o estudo. Começando pelas rotinas O mais adequado é ter um horário com tempo de fazer os trabalhos de casa. Isto deve ser acordado com a criança de forma a motivar. Os TPC devem ser as primeiras tarefas a realizar quando a criança chega a casa. Após o jantar, a criança já estará mais cansada e facilmente se desconcentrará! O tempo estimulado para fazer os trabalhos de casa ronda os 40 minutos diários (isso é variável de acordo com a idade da criança). Pode ser útil ter alguns intervalos entre tarefas para evitar a desmotivação e o cansaço. Após a rotina dos trabalhos de casa a criança deve ter sempre que possível uma atividade agradável que pode ser usada como uma espécie de consequência positiva para o seu esforço na tarefa. O local e as condições em que a criança realiza os trabalhos de casa também são importantes. Às vezes a criança recusa fazer os trabalhos porque tem dificuldades em se concentrar. Tente garantir que a criança faz os trabalhos de casa num local sossegado, sem muitos elementos distratores, e, de preferência, sempre no mesmo sítio (pode deixar a criança escolher). Também pode permitir que a criança escute música instrumental, o que a poderá ajudar a descontrair. A apresentação visual dos trabalhos também pode ser um aspeto relevante para a sua realização. Muitas folhas de trabalho para fazer podem representar “horas de trabalho infindáveis” e colocar a brincadeira a “anos-luz” de distância. Se isso acontece com o seu filho experimente dividir as tarefas. Por exemplo, se ele tiver dez exercícios de matemática, peça-lhe para começar por fazer cinco e depois mostrar-lhe. Nessa altura, elogie o seu esforço e incentive-o a acabar os restantes. O feedback imediato dos trabalhos também ajuda a criança a motivar-se e a persistir na sua resolução. Passando à motivação Outro aspeto importante para evitar a recusa é saber motivar as crianças para fazer os trabalhos. A sua atitude perante os trabalhos de casa também tem um papel fundamental. Pais com uma atitude positiva, que se centrem no valor da aprendizagem enquanto motivação, ao invés de se focarem em terminar uma tarefa ou obter a melhor nota, conseguem mais facilmente melhorar a motivação das crianças para fazer os trabalhos de casa. É importante tornar os TPC um momento o mais agradável possível e garantir à criança a obtenção de pequenos sucessos. Quando é elogiada e sente o orgulho dos outros no que está a fazer sente-se mais motivada para tal. Neste sentido, o castigo por não querer fazer as tarefas deve ser evitado porque isso só vai criar frustração na criança e pode conduzir ao conflito. Também é importante algum cuidado com as situações em que a criança erra. É fundamental para os pais perceberem que no processo de desenvolvimento do estudo, o erro está sempre presente. É importante mostrar à criança que errar faz parte da aprendizagem e que juntos poderão superar as dificuldades. Saber lidar com o erro e aceitá-lo deve partir do exemplo dos pais. Se a recusa persistir… não desanime! Fale com o professor do seu filho(a) e faça uma análise do que está por detrás da situação e/ou procure um técnico especializado para avaliar o funcionamento da criança e apoiar na compreensão da situação. Ana Isabel Santos Licenciada pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, tem várias especializações na área das Dificuldades de Aprendizagem e de alterações neurocomportamentais, como a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. É diretora do centro CRIAR onde coordena o núcleo de crianças e adolescentes.
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